Mesa coordenadora da audiência |
Cerca de 150 pessoas de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Piranga, Presidente Bernardes, Paula Cândido, Viçosa, Coimbra, Cajuri, Ervália e Muriaé participaram da audiência |
O tema foi
discutido por cerca de cinco horas na Escola Municipal Almiro Paraíso e contou
a participação dos promotores de Justiça Paulo César Vicente de Lima, que está
à frente da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Coordenadoria de
Inclusão e Mobilização Sociais - Cimos); Leonardo Castro Maia, coordenador
regional em Governador Valadares das Promotorias de Justiça de Defesa da Bacia
do Rio Doce; Spencer dos Santos Ferreira Júnior e Gabriel Pereira de Mendoça,
da Promotoria de Justiça de Viçosa; da procuradora da República Silmara Goulart
e dos defensores públicos Ana Flávia Soares Diniz e Glauco Rodrigues de Paula.
Cerca de cem moradores de Viçosa e região participaram dos debates e 22 fizeram
uso da palavra. Nenhum representante da mineradora Ferrous Resource esteve
presente à audiência.
Por meio de faixas
e panfletos, os participantes da audiência protestaram contra a construção do
mineroduto. Um dos panfletos exibia os seguintes dizeres: "Não
descansaremos enquanto não soubermos que nossas águas estão seguras e que os
direitos dos atingidos estarão garantidos. O povo unido é povo forte, e a força
da nossa organização é maior! Fora mineroduto".
A estudante de
Engenharia Florestal da UFV Marina Beatriz Poggetto Andrade, 25, integrante da
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) e Levante
Popular da Juventude, se mostrou indignada com a situação. Ela teme que, com a
instalação do mineroduto, o abastecimento de água de Viçosa e da UFV possa ser
prejudicado. "Cerca de 50% da água que abastece a cidade de Viçosa e 100%
da que é fornecida à UFV vêm do ribeirão São Bartolomeu. Com a instalação do
mineroduto, corremos um sério risco de desabastecimento, pois várias nascentes
poderão ser destruídas", destaca a estudante.
Para Lucas Magno, membro do
Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (PACAB) e da
Associação dos Geógrafos do Brasil (AGB), uma prova da irresponsabilidade da
empresa em relação ao tema é a inconsistência do Estudo de Impacto Ambiental
(EIA). “Levantamento feito em apenas um trecho do mineroduto em Viçosa prova
que existem 29 nascentes em uma região que a empresa diz existir apenas 06.” afirmou. Também foram
encontradas nascentes em locais onde serão feitos os “bota-fora” de toda a
terra removida na construção, bem como água usada para consumo humano direto,
algo que o EIA da FERROUS diz não existir
Já o estudante de
Biologia da UFV Luiz Paulo Guimarães Siqueira, 23, destaca que o trajeto do
mineroduto, caso este venha a ser implementado, irá passar por nascentes,
córregos e rios. "Muitas famílias dependem dessas águas para sobreviver.
Além dessas pessoas que vivem na zona rural de Viçosa, os moradores da cidade
também deverão ser prejudicados, já que a cidade apresenta uma deficiência no
abastecimento de água. Constantemente, os moradores dos bairros mais altos
sofrem com a falta d’água. Este ano, em pleno período chuvoso, o fornecimento
foi prejudicado nas casas localizadas naqueles bairros. O projeto do mineroduto
contempla mananciais importantes, e esse tipo de empreendimento de grande porte
certamente trará muitos riscos para a população", ressalta Luiz Paulo.
Ainda segundo o
estudante, levantamento preliminar feito pela UFV mostra que somente em Viçosa
serão, no mínimo, 60 nascentes atingidas pela construção do mineroduto. Segundo
a Ferrous Resources, o trajeto do mineroduto passaria por 30 nascentes. "Viçosa, que tem hoje mais de 70 mil
habitantes, enfrenta a seguinte situação: ou ela opta pelo abastecimento de
água ou pela construção do mineroduto. Não há como conceber as duas coisas",
destaca.
Rafael Bastos, professor
universitário, especialista em abastecimento hídrico e responsável pelo Serviço
de Tratamento de Água da UFV, apresentou dados argumentando que a passagem do
mineroduto na região gerará um impacto sem precedentes no abastecimento dos
moradores, sobretudo dos bairros mais altos da cidade que já ficaram sem água
durante longo período nos primeiros meses de 2012. “Viçosa é um ambiente frágil do ponto de vista dos recursos hídricos e
o risco de desabastecimento é muito grande”, insistiu.
Emerich Michel de
Souza, morador de Coimbra, município próximo à Viçosa, falou sobre o tratamento
recebido por representantes da Ferrous Resource. Segundo ele, a empresa fez uma
espécie de cadastro das pessoas que residem ao longo do trajeto do mineroduto.
"Meu nome é Emerich, mas para a Ferrous eu sou o MPK3.15.0017. Uma empresa
estrangeira que veio para o nosso país e não se preocupa em adequar-se à nossa
realidade demonstra como é a sua política", ressalta. A Ferrous, de acordo
com Emerich, "mente, coage, é desonesta, não respeita a privacidade dos
moradores, pressiona e constrange a população que vive ao longo do trecho que
poderá receber o mineroduto".
Vivian Nazaré, ameaçada
moradora da cidade de Paula Cândido, também denunciou que funcionários da
FERROUS entraram em sua casa sem nenhuma autorização para tirar fotografias.
“Além disto, das três casas que temos na propriedade, a empresa alega
reconhecer apenas uma. Minha mãe antecipou sua morte por causa do stress desse
mineroduto e meu pai, já idoso, está preocupado e aborrecido e já adoeceu por
causa desta situação”, afirmou.
Além dos possíveis
danos ambientais, os moradores de Viçosa e região alertam para o possível
surgimento de problemas sociais como o crescimento da criminalidade com a
chegada de um contingente grande de trabalhadores na região. Marques Médice
Mateus (presidente da Associação dos Moradores do Palmital, comunidade de
Viçosa) lembra que, na década de 90,
a instalação de um garimpo no rio Piranga causou muitos
problemas à população. "A contaminação da água [por mercúrio] e
consequente mortandade de peixes foram alguns dos problemas. Porém, o grande
número de garimpeiros na região trouxe também o aumento da taxa de natalidade,
e muitas famílias foram moralmente abaladas", destaca o agricultor.
Para Thiago, além dos
elementos técnicos, há também uma questão política fundamental: a privatização
da água. “O rio não está à venda”,
afirmou. “Uma pergunta tem que ser feita: para quê e para quem é este cano?
Observando a postura da empresa, sabemos que para os trabalhadores é que não é.
Por isto precisamos expandir e fortalecer a Campanha pelas Águas e contra o
mineroduto que não pode ser mais apenas em Viçosa, mas em todas as cidades que
estão no trajeto”, concluiu.
Em seguida, segundo
Spencer dos Santos, foi instaurado um Procedimento Preparatório e requisitado à
Secretaria de Meio Ambiente de Viçosa um estudo sobre os impactos ambientais,
tendo-se em vista a instalação do mineroduto. "Pedimos também um estudo ao
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Viçosa (SAAE), uma perícia da Central de
Apoio Técnico (Ceat) do MPMG e a colaboração do Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma)", esclarece.
Ainda conforme
explica o promotor de Justiça, "a Ferrous apresentou um laudo sobre a
instalação do mineroduto, o qual foi
comparado com a perícia feita pela Ceat, e várias incongruências foram
observadas. Uma delas diz respeito ao consumo humano de água. De acordo com
a Ferrous Resources, não há consumo na jusante dos cursos que serão
atravessados pelo mineroduto, informação que não corresponde à perícia feita
pela Ceat", destaca.
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Coordenador da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social (CIMOS) Promotor Paulo César |