segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Assembléia Popular em Paula Cândido diz NÃO ao Mineroduto da Ferrous


            Cerca de 100 pessoas participaram da Assembléia Popular: impactos do Mineroduto da Ferrous em Paula Cândido e Região realizada no último sábado (20) pelas entidades integrantes da Campanha pelas Águas e contra o mineroduto da Ferrous. O objetivo foi reunir a população da cidade e de outras regiões atingidas para discutir os impactos sociais e ambientais do empreendimento e pensar alternativas de resistência.
População preocupada lota salão paroquial
             Na abertura Luiz Paulo, estudante de biologia na UFV, membro da Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia (ENEBIO) e atingido direto pelo mineroduto, apresentou uma extensa lista de direitos humanos que estão sendo violados pela empresa. Durante a explanação, os participantes reforçaram a forma desrespeitosa como a Ferrous vem agindo na região. Luiz Paulo também apresentou fotos das comunidades que serão atingidas na zona rural de Paula Cândido, além de imagens de outros minerodutos que já operam em Minas Gerais, como o da mineradora Vale em Mariana.

Participantes preocupados com os impactos que podem vir..
            Letícia Faria, membro da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) salientou que o modelo de desenvolvimento ao qual o mineroduto faz parte, não tem nada a oferecer ao povo. “O mineroduto é um projeto dos capitalistas que querem roubar nossos minérios e, junto com nossas águas, atropelar tudo o que tiver em seu caminho, sejam nossas matas, nascentes, plantações, casas, toda a nossa historia, para um único objetivo: o lucro de uma empresa multinacional”, declarou. Ela apontou ainda que o projeto mantém o país com uma economia com aspectos coloniais, baseada na exportação de matérias primas, deixando toda a destruição social e ambiental para o povo brasileiro.
Cachoeira ameaçada pelo mineroduto
Por todo o trajeto em Paula Cândido,  mineroduto atravessa nascentes e cursos d'água..

Casa e curso d'água ameaçados pelo mineroduto 
Participação Popular

           Após a abertura do debate, Dona Carmelita, agricultora atingida pelo mineroduto na comunidade do Morro do Jacá, colocou como a empresa é desrespeitosa no trato com os atingidos: “A moça foi lá em casa e falou que iria priorizar a minha casa, que em compensação ia ter que pegar o meu bananal, meu pé de laranja, manga, todas minhas plantas. Eu virei para ela, com todo respeito claro, e perguntei se ela achava que as plantas tinham ido parar ali por acaso. Ora! Foram anos de suor, de trabalho para eu conquistar meu pedaço de terra e ter meu pé de laranja, vocês estão achando que eu vou abrir mão assim deles? De jeito nenhum! Não vai ser fácil passar por aqui não!”, desabafou.


            Glauco Rodrigues, defensor público da Comarca de Viçosa, que também abrange Paula Cândido, colocou a defensoria a disposição dos atingidos que não tem recursos para garantir uma assessoria jurídica particular. “A defensoria se coloca a disposição para garantir os direitos dos proprietários. Se vocês estiverem satisfeitos, tudo bem, o direito é seu. Mas se acharem que estão sendo injustiçados, ainda dá tempo e é nosso dever brigar pela garantia dos direitos” afirmou. 


            Everaldo, vereador em Paula Cândido, disse ter ficado sensibilizado com os depoimentos e que não sabia do que estava acontecendo no município. “A Câmara Municipal de Paula Cândido desconhece tudo isto que foi apresentado aqui. Não sabemos desta forma violenta que empresa vem agindo com as famílias, nem dos impactos ambientais em nossas águas. O que a Câmara tem conhecimento é baseado nos relatórios e visitas da Ferrous, e que pelo o que ela apresenta está tudo bem, e as pessoas estão todas satisfeitas. Mas com os depoimentos aqui colocados, vejo que a empresa está passando o poder público para trás” afirmou.

            O Professor Idelmino, membro da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous, relatou como a empresa tentou coibi-lo de continuar na organização. “A Ferrous tem medo da nossa organização, estamos conseguindo passar a informação do que de fato é o mineroduto, e não da forma como ela quer que interpretamos. Eles chegaram a ligar no número da minha esposa perguntando o que eu queria com a movimentação e eu fui bem claro na resposta. Em Viçosa, sou morador do bairro Santa Clara, região que sofre constantemente com o desabastecimento de água nas épocas de estiagem, o que eu estou fazendo participando ativamente da Campanha Pelas Águas nada mais é que lutar pela defesa do que há de mais importante para nossa sobrevivência, a água é nosso bem mais importante, temos que defende-la” afirmou.
           
           A Assembléia teve boa participação, tanto de moradores de Paula Cândido quanto de outros municípios atingidos e solidários a luta dos trabalhadores, como Acaiaca, Muriaé, Viçosa e Conselheiro Lafaiete.

Pd. João, prefeito de Acaiaca, se colocando a disposição na luta junto aos atingidos


Decisões

            Após ampla discussão dos problemas do mineroduto, a Assembléia Popular deliberou pela continuidade da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous e por reforçar a pressão sobre os órgãos públicos, a começar pela Câmara de Vereadores ao qual o vereador Everaldo prometeu colocar em pauta ainda esta semana na reunião. Foi encaminhada uma Ação Coletiva de Paula Cândido contra a passagem do mineroduto e a solicitação de estudos para averiguar os impactos nos recursos hídricos do município.
            Também foi decidido pela difusão dos resultados da atividade e continuar na tentativa de sensibilizar mais pessoas sobre os impactos do empreendimento na região.
            A Assembléia Popular foi encerrada com grande animação puxada pela batucada do Levante Popular da Juventude e acompanhada pela partilha de um prato chamado pelos organizadores de “sopão fora Ferrous”.  

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous promoverá Assembléia Popular sobre mineroduto da Ferrous em Paula Cândido



No próximo sábado, dia 20, a Campanha Pelas águas e Contra o Mineroduto da Ferrous promoverá uma Assembléia Popular para discutir os impactos do empreendimento em Paula Cândido e região.

A Assembléia Popular é um método utilizado pelos movimentos sociais que permite ao povo discutir e colocar seu posicionamento referente aos problemas que o afetam.

A situação na cidade não está nada agadável. As familias querem o seu direito de dizer NÃO ao mineroduto! Muitas casas vão ser demolidas, lavouras, currais, cursos d'agua e várias nascentes serão destruidas caso a Ferrous implante o mineroduto. A empresa vem agindo de má fé com as pessoas, aproveitando da simplicidade e honestidade do povo para enganá-lo. Por isso, neste sábado estaremos todxs presentes com garra e esperança na luta pelas nossas águas e direitos das comunidades!

A Assembléia Popular “Impactos do Mineroduto da Ferrous em Paula Cândido e região” será realizada no sábado dia 20, às 13 horas no salão paroquial da Igreja de Paula Cândido.      


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) elabora relatório dos impactos socioambientais do mineroduto da Ferrous na Microrregião de Viçosa


No primeiro semestre de 2012 o Grupo de Trabalho (GT) em Ambiente da AGB Viçosa se concentrou em levantar informações através de atividades de campo e de leitura de documentos para produzir um relatório como forma de denúncia que levantasse os diversos impactos que a microregião de Viçosa passaria com o projeto do mineroduto da Ferrous Resources sendo efetivado.

O mineroduto com mais de 400 quilômetros de extensão, ligará o complexo da Mina Viga em Congonhas-MG ao terminal portuário (ainda em licenciamento) no município de Presidente Kennedy, no Espírito Santo. Atualmente no estado temos 4 minerodutos: 3 da Samarco que sai de Mariana com destino a Anchieta/ES e um em construção, porém embargado, da Anglo Americam que sai de Conceição do Mato Dentro com destino ao litoral de São João da Barra/RJ.

Em Viçosa cinco localidades serão impactadas: Palmital, Machado, Juquinha de Paula, Vila Nova Paraíso e Córrego do Engenho. Ou seja, as localidades afetadas serão justamente onde localizam-se os principais rios tributários do Ribeirão São Bartolomeu.

O mineroduto chegará a Viçosa pelo município de Paula Cândido, percorrendo 15 km no território viçosense e segue em direção ao município de Coimbra. Há a previsão de dezenas de desapropriações e impacto nos mananciais da cidade, gerando danos diretos ao berçário de nascentes do rio São Bartolomeu nos bairros do Palmital, Paraíso e Córrego do Engenho e comprometendo assim a provisão de água no município, além dos danos referentes ao próprio ecossistema local.

Segundo os dados do EIA/RIMA da Ferrous existem quatro nascentes na área em si do mineroduto e mais 26 na faixa de servidão, computando um total de 30 nascentes. Porém o mapeamento realizado pela AGB identificou a presença de 30 nascentes situadas na bacia do São Bartolomeu (localizadas na área de servidão do empreendimento). Se considerarmos todas as nascentes impactadas dentro do município de Viçosa, provavelmente este número irá dobrar ou até triplicar. Haja vista que o EIA/RIMA estima 30 nascentes para todo o município, e este trabalho mapeou 30 apenas na bacia do São Bartolomeu sendo estas diferentes das mapeadas pela empresa. Além disso, este número tende a aumentar devido às prováveis limitações e negligências do não mapeamento de diversas nascentes nos arredores das áreas de “bota fora”.

Mapa de localização das nascentes contidas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que serão afetadas pelo mineroduto da Ferrous

Mapa comparativo das nascentes levantadas pela Ferrous e das levantadas pela AGB

Em diversas conversas com moradores de Coimbra, Ervália e Viçosa, foi relatado que eles nunca viram nenhum representante da empresa fazendo o trabalho de levantamento dos cursos d’água nas localidades, muito menos foram contatados para saber das nascentes em suas propriedades que serão atingidas. Além disso, a questão da indenização não tem sido satisfatória e justa para diversos moradores atingidos, como fora denunciado durante a audiência pública do Ministério Público realizada em junho no bairro Paraíso. 


Assim, diante deste cenário, a AGB argumenta a partir desse relatório, que esse empreendimento é inviável na microrregião de Viçosa, devido ao risco que o mesmo traz com relação ao abastecimento hídrico local e ao processo de ferimento dos direitos humanos dos moradores afetados. O Ministério Público Federal (MPF) está entrando com uma Ação Civil Pública para embargar o projeto diante de inúmeras irregularidades que estão sendo denunciadas por várias entidades e pelos próprios moradores atingidos.

Para consultar o “Relatório sobre os Impactos Socioambientais do Mineroduto da Ferrous Resources na microrregião de Viçosa-Mg” na íntegra consultar o sítio: