segunda-feira, 19 de maio de 2014

Debate sobre mineroduto na UFV atrai multidão



Mineroduto em Viçosa! Impactos na UFV?” foi o tema da mesa debate que reuniu cerca de 500 estudantes, professores, servidores e moradores da cidade e comunidades atingidas. O evento ocorreu no dia 14 de maio às 18:30, no auditório do prédio de Engenharia Florestal da UFV. A mesa foi organizada pela Campanha pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous e o PACAB (Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens e Mineração na Zona da Mata Mineira).

Como forma de antecipar as discussões da mesa, diversas intervenções foram realizadas no campus da UFV. Uma delas foi a fixação de mais de 100 placas com os dizeres “Faixa de servidão: Construção do mineroduto da FERROUS”, o que chamou grande atenção e repercutiu em diversos questionamentos pela comunidade acadêmica.

Os convidados da mesa foram: Rosilene Pires, atingida pelo mineroduto na cidade de Paula Cândido e membro da Campanha pelas Águas; Rafael Bastos, professor e chefe da Divisão de Água e Esgoto da UFV; e Sânzio Borges, atual diretor presidente do SAAE. O estudante Luiz Paulo Guimarães, representante da Campanha pelas Águas, iniciou e mediou o debate.

Com o auditório lotado, Luiz Paulo começou a mesa perguntando quem já tinha ouvido falar sobre o mineroduto e queria compreender melhor a situação. Embora a maioria tenha conhecimento do mineroduto, poucos têm clareza dos impactos que o projeto pode gerar em nossa região.

Nesse sentido, Luiz Paulo apresentou o histórico da chegada da Ferrous em Viçosa, as principais mobilizações e ações da empresa. Além disso, mostrou diversas imagens de áreas que possivelmente serão atingidas e demonstrou os iminentes impactos com vídeos e fotos de outros minerodutos já instalados no estado. “Podemos observar que para implantação de empreendimentos como este é inevitável a destruição de rios, estradas, propriedades, muito barulho e poeira, além da presença de muitos trabalhadores e grande maquinário nas obras”, afirmou o estudante demonstrando as fotos de outros minerodutos. Um estudante presente relatou os transtornos gerados pela construção e rompimento do mineroduto da Samarco em sua cidade, Espera Feliz. O incidente gerou a contaminação da água inviabilizando-a para consumo, grande mortandade de peixes, deixando a comunidade fragilizada.

Economia - Especial - Minas GeraisMineroduto Minas Rio o maior do mundo aproximadamente 525km ligando Conceicao do Mato Dentro em Minas Gerais com o porto em Acu distrito de Sao Joao da Barra no Rio de Janeiro Empresas responsaveis pela Obra MMX Anglo A
Fotos e vídeos de minerodutos impactaram o público presente
Luiz Paulo também apresentou o relatório técnico da Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) em contra ponto ao EIA (Estudo de Impacto Ambiental) realizado pela Ferrous. Segundo a empresa, a cidade de Viçosa não faz uso da água à jusante do Ribeirão São Bartolomeu, o que significa dizer que Viçosa não é abastecida pelo ribeirão. O que não é verdade. Somado a isto, o contra-laudo da AGB constatou a existência de 30 nascentes no trajeto do mineroduto e que serão diretamente impactadas, embora a empresa tenha declarado apenas 6 nascentes no mesmo traçado.

Composição da Mesa-Debate

Logo em seguida, foi realizada a composição da mesa. A atingida Rosilene Pires sensibilizou o público relatando o tratamento dado às comunidades pela Ferrous, em que uma série de direitos são violados. Segundo ela, várias informações são omitidas ou distorcidas pela empresa. “O povo não tem direito de escolha, a Ferrous impõe o projeto como certo e ameaça os atingidos com o decreto de utilidade pública do mineroduto. E quando começamos a questionar, somos ameaçados”, disse Rosilene. Ela concluiu lamentando que “enquanto atingidos, vemos que não temos o diálogo com a empresa. A relação é de desrespeito e ironia”. Rosilene ainda apontou como saída, a organização e a união das comunidades atingidas para discutir o projeto e criar formas de resistência.

Diretor Presidente do SAAE, Sanzio Broges e Prof. Rafael Bastos, enfáticos ao dizerem que a passagem do mineroduto não se sustenta em Viçosa

Segundo o chefe da Divisão de Água e Esgoto da UFV, Rafael Bastos, devido à fragilidade do Ribeirão São Bartolomeu a universidade opera no limite necessário de abastecimento de água, e um empreendimento de grande porte como esse afetará diretamente as atividades no campus. Ele problematizou ainda a pressão exercida pela especulação imobiliária com a construção de condomínios e loteamentos na zona rural de Viçosa, fatores que agravam a situação do córrego. O especialista enfatizou que “vivemos um colapso em janeiro deste ano, e quase adiamos o começo das aulas por falta de água. Essa é a situação do manancial onde se quer passar o mineroduto”. O empreendimento põe em risco a sobrevivência de Viçosa, não só bem estar e conforto, concluiu.

Ficou constatado, portanto, que caso o mineroduto seja instalado, o Ribeirão São Bartolomeu, que abastece 100% da UFV e metade da cidade, será diretamente afetado. O diretor presidente e assessor técnico do SAAE, Sânzio Borges e Marco Magalhães, respectivamente, expuseram o posicionamento da autarquia contrário à passagem do mineroduto. Foram elaborados documentos encaminhados à Ouvidora do Ministério Público Federal em 2012, em que o SAAE declara priorizar políticas de prevenção e não de reparação de danos, já que a água é um direito de todos e deve ser preservada. Nesse sentido, alguns projetos de recuperação da bacia estão sendo implantados. Contudo, o mineroduto pode acentuar os problemas de abastecimento e afetar toda a cidade.  Além do São Bartolomeu, estão no trajeto do mineroduto, o Rio Turvo Sujo, que abastece outra metade da cidade, e o Turvo Limpo, válvula de escape da cidade onde o SAAE planeja construir a terceira estação de tratamento de água.

Debate e participação do público

Com o término da exposição dos convidados, a mesa foi aberta para debate com o público presente. Marcelo Leles, professor do Departamento de Economia Rural e coordenador do PACAB, reafirmou a necessidade de ampliar esse debate. Apesar do PACAB trabalhar nisso há anos, o tema é pouco difundido e não obtivemos o posicionamento claro da UFV. Segundo ele, “Somos reconhecidos pelo metiê acadêmico, o que é muito importante. Mas infelizmente, o campus não acordou ou simplesmente não quer acordar”.

O vereador Idelmino Silva também marcou presença no evento. Para ele, as mobilizações da Campanha pelas Águas foram fundamentais na tomada de posição contrária do SAAE e o mesmo deve ser feito na UFV. Ele provocou o público dizendo: “Todos vocês, estudantes, são atingidos. A comunidade universitária tem que fazer cobrança junto à reitoria. Temos que colocar esse problema abertamente para os candidatos a reitor”. Para ele, a discussão também tem que chegar à cidade, por meio de mais espaços de formação de opinião a fim de dar publicidade e avançar na resistência contrária ao mineroduto. O vereador lembrou que a prefeitura concedeu a autorização para passagem do mineroduto e, mesmo com o SAAE posicionando contrário ao mineroduto, o prefeito não teve ainda coragem de revogar a autorização.

Emerich de Sousa, atingido pelo mineroduto em Coimbra, colocou que a pergunta da mesa foi respondida: “Tem impacto na UFV, sim!”. Além disso, fez uma série de propostas para cobrarmos o posicionamento da UFV.

Muitos estudantes não tinham conhecimento da gravidade da situação e manifestaram insatisfação em relação à postura de negligência da administração da UFV frente à delicada situação e ao não comparecimento ao evento, apesar de terem sido convidados. Muitos se sentiram envergonhados com tamanho descaso e omissão, devido o respaldo que a UFV possui por ser considerada uma das melhores universidades do Brasil e ter como vice-reitor, Demetrius da Silva, especialista em recursos hídricos e que recentemente tomou posse no conselho científico da Fundação Centro Internacional de Educação, Capacitação e Pesquisa Aplicada em Águas (UNESCO-HidroEx), como lembrou o estudante de biologia Rodrigo. “Alguma coisa deve estar por trás para a reitoria não se posicionar, não é possível! Será que ela ainda não entendeu que a sobrevivência da UFV depende disso?” questionou o estudante.

Letícia Faria, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens enumerou uma série de direitos que são violados antes mesmo da construção do mineroduto, como direito à negociação, à informação correta e qualificada, ao trabalho, à saúde e acesso ao meio ambiente saudável. “As multinacionais levam nossas riquezas embora e deixam destruição, respaldadas pelos órgãos ambientais e o governo de Minas, que estão comprometidos com o empreendimento e não com o povo”. Ela completa “é um modelo colonialista, em que água, minério e energia viram mercadoria e não servem à soberania brasileira. Este projeto não nos serve, por isso estamos aqui”.

Por fim, Rafael Bastos salientou a falta de planejamento que garanta a segurança hídrica de Viçosa, a necessidade de discutir a sustentabilidade do campus para sairmos da crise e que a cidade e a UFV precisam acordar para não ser tarde de mais. O diretor do SAAE se mostrou convicto da inviabilidade do mineroduto na cidade e se colocou a disposição para participar de novos eventos que ampliem a conscientização da população. E Rosilene Pires reforçou a necessidade da organização popular e clamou a todos a dizer: “Por um país soberano e sério, somos contra o saque dos minérios!”. Ficou evidente, a necessidade de ampliar a discussão da água e debater o modelo de desenvolvimento do país.

Mesmo sem as vendas nos olhos e ouvidos, a UFV ainda mantém calada diante do problema

O espaço foi finalizado com uma ação dos participantes que concentraram as placas da Faixa de Servidão do Mineroduto em frente ao prédio da reitoria, como forma de dar visibilidade à discussão e sensibilizar a administração superior a se colocar em defesa da segurança hídrica e não permitir que o mineroduto tenha prosseguimento.

Participantes colocam placas na reitoria para sensibilizar administração a impedir esse desastre à UFV



sexta-feira, 16 de maio de 2014

Manifesto elaborado para Mesa Debate

Estudante de geografia da UFV elabora manifesto sobre mineroduto da Ferrous



A questão do Mineroduto
Matheus de Castro Menezes
Geografia - UFV

Até quando vamos ter que aceitar os interesses do capital passarem por cima das questões socioambientais?É justo uma empresa multinacional vir e tirar do povo o que é dele por direito? É justo os interesses corporativos e a fome de lucro atentar contra o meio-ambiente?
            A Ferrous não me engana com seu lindo vídeo no YouTube, com uma música calma de fundo, mostrando, ou melhor, enganando os populares sobre o quanto seria bom esse mineroduto. Eu pergunto: bom para quem?
            Que discurso é esse Ferrous? Minimização de impactos nos locais onde está inserida?Mineroduto representa um transporte ambientalmente menos impactante? De onde vem essa informação? O transporte ferroviário é de longe menos impactante do que seu mineroduto, além de ter capacidade de gerar mais empregos. Onde está fundamentado o seu discurso?
            Ah, baixo custo operacional! Interessante que vocês ao menos expressem isso. Essa informação é muito válida, mas eu nem precisaria vê-la em sua própria página na web para entender que a questão de se optar pelo mineroduto é puramente financeira.
            Nas outras experiências que o Brasil teve com minerodutos, podemos destacar os impactos que eles deixaram: São nascentes, córregos, rios e ribeirões que secaram, é produtor rural sem água para alimentar seu gado, irrigar sua plantação, mover seu moinho, lavar suas roupas, tomar banho, ou mesmo beber água. A Ferrous fará diferente?

            Para encerrar, deixo aqui meu repúdio às mineradoras, aos minerodutos e aos que apoiam a implantação deles. Deixo aqui também meu apoio e minha energia positiva aos produtores rurais afetados, à fauna, à flora, ao Rio Paraopeba e ao Córrego São Bartolomeu.

terça-feira, 13 de maio de 2014

UFV sob faixa de servidão

         O campus da UFV amanheceu repleto de placas de faixa servidão do mineroduto da Ferrous. As placas foram colocadas em todos os departamentos e nos prédios administrativos como a reitoria e o edifício Arthur Bernardes.  Além das placas de servidão, foram colocados cartazes provocativos e informativos sobre a questão da água em Viçosa e os impactos do mineroduto. Perguntas como: “você sabe de onde vem a água da UFV/Viçosa?”, “Você já ouviu falar em falta de água em Viçosa?” e “Opa, mas e o mineroduto? Você ouviu falar em mineroduto em Viçosa?”, estão provocando a reflexão e conscientização da comunidade universitária.

         A intervenção tem relação com a realização da “Mesa Debate: Mineroduto em Viçosa! Impactos na UFV?”, que será promovido nessa quarta feira (14), às 18:30 no auditório da Engenharia Florestal da UFV, não perca! 

Participe e some forças para impedir que a Ferrous destrua as águas de Viçosa e região!

Prédio da reitoria ameaçado pela passagem do mineroduto

Edifício Arthur Bernardes, símbolo da UFV, ameaçado pela Ferrous

Gramado da química, muito usado pelas famílias da cidade para brincar e passar o dia, pode não ser mais a mesma..

Refeitório sob ameaça, estudantes em alerta questionam aonde vão realizar as refeições caso a UFV não faça nada para evitar o mineroduto







segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mineroduto será tema de discussão na UFV

           Na próxima quarta, dia 14, a Campanha Pelas Águas realizará debate sobre os impactos da implantação do mineroduto da Ferrous em Viçosa e região. Para um dos coordenadores da Campanha, Luiz Paulo Siqueira, o debate terá como objetivo levar essa discussão para dentro da universidade. “Infelizmente, poucos estudantes estão cientes sobre o sério problema que o município possui com o abastecimento de água. E o pior, muitos professores também não se atentam à isso. O objetivo da mesa debate é incentivar a conscientização da comunidade universitária sobre este problema e entender como a implantação do mineroduto irá agravar significativamente a fragilidade do abastecimento hídrico de Viçosa. Além dos impactos na segurança hídrica da cidade, discutiremos também sobre os impactos no modo e condição de vida das comunidades atingidas pelo mineroduto”.
            
           A mesa-debate contará com a participação de Rosilene Pires, atingida pelo mineroduto e liderança do município de  Paula Cândido; Sanzio Borges, Diretor Presidente do SAAE e, Prof. Rafael Bastos, especialista em abastecimento de água e chefe da Divisão de Água e Esgoto da UFV.
           
             O evento é gratuito e aberto a todos interessados no tema, iniciará às 18:30, no auditório da Engenharia Florestal na UFV.      
 


Entenda o caso
            A mineradora Ferrous pretende escoar minério de ferro de Congonhas (MG) até um porto no município de Presidente Kennedy (ES). Viçosa é uma das 22 cidades que será afetada pelo empreendimento. A polêmica gerada no município ganhou forças devido ao traçado do mineroduto, que atingirá diretamente córregos e nascentes do Ribeirão São Bartolomeu, manancial este responsável pelo abastecimento integral da UFV e de 50% da cidade. Até o momento, o SAAE, Divisão de Água e Esgoto da UFV e o CODEMA, defendem a tese de que tecnicamente é inviável  a passagem do empreendimento nos mananciais que abastecem Viçosa. Além disso, uma perícia realizada pelo Ministério Público Estadual encontrou irregularidades no Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela empresa. A administração da UFV e a Prefeitura ainda não se manifestaram sobre o tema.  

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Lula, Dilma e o Cavalo de pau

É duro dizer, mas quem tem poder de mando no governo está aparelhado com a ditadura incrustada no setor elétrico. Isso torna o governo extremamente frágil. Incapaz de exigir que ao menos as famílias deslocadas à força tenham seus direitos plenamente assegurados.

Por Antônio Claret
Conta-se que Lula, no início de seu governo, fora alertado por alguns de seus correligionários sobre necessidade de mudanças estruturais profundas e que ele, em tom de galhofa, afeito ao consenso de classe, respondera que não se dá um Cavalo de pau num Submarino.
A frase, saída ou não de sua boca, sintetiza bem o seu governo e de sua sucessora, Dilma Roussef. O namoro íntimo oficial e extra oficialmente com a classe dominante se justifica em nome da governabilidade.
O Ministério de Minas e Energia, estratégico para a soberania do país e para a liberdade do povo brasileiro, continua nas mãos de grupos que representam uma herança arcaica e perversa no campo político-partidário e no econômico. Eles são, claramente, contra o povo e contra a classe trabalhadora.
Quando o Lobão uiva, ele o faz em nome de toda uma alcatéia que manda e desmanda em diversos estados brasileiros. Alguns têm o pé, a cabeça e o coração fincados na Ditadura, ainda que tenham aperfeiçoado o seu discurso. Haja vista a situação penosa das famílias empobrecidas do Maranhão, dominado pelos Sarney, e dos presos, em situação especialmente subumana. Diante dele, do MME, os outros ministros e seus colaboradores abaixam a cabeça e se desculpam, e choram, e dizem do que estão tentando, mais parecidos com agentes filantrópicos do que com governo.
A lógica da Ditadura persiste arraigada na estrutura do setor elétrico brasileiro. Não existe nenhuma lei que assegure o direito das famílias atingidas, a não ser um decreto da Década de 40 (Getúlio Vargas) que fala do direito dos proprietários. As empresas barrageiras comumente recorrem ao Interdito Proibitório, também resquício do período ditatorial. A área de implantação de barragem é considerada área de Segurança Nacional, triscar nela é terrorismo.
Todo esse arcabouço dos tempos de chumbo explica, em parte, o que ocorre em Belo Monte: operários confinados; Força Nacional instalada dentro do canteiro de obra; Reassentamento Urbano Coletivo, conforme consta do PBA, transformado em loteamento, com casas de concreto de durabilidade e qualidade duvidosas, sem urbanização, sem estruturas garantidoras das políticas públicas básicas e sem os meios de subsistência das famílias; abandono de indígenas, pescadores, camponeses e outros à sua própria sorte.
É duro dizer, mas quem tem poder de mando no governo está aparelhado com a ditadura incrustada no setor elétrico. Isso torna o governo extremamente frágil. Incapaz de exigir que ao menos as famílias deslocadas à força tenham seus direitos plenamente assegurados. Incapaz de garantir que Brasil Novo, município atingido pela barragem, tenha um hospital público para o povo deixar de ser vítima de hospital particular. Capaz de permitir que a Norte Energia brinque de fazer aquela política rasteira de um poço d’água aqui, uma escolinha ali, e publique no seu Blog a redenção do Xingu. Essa é uma coisa imperdoável!
Está claro que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, mas não tomou o poder. Está evidente que o governo atual tem disposição para gerenciar bem a crise capitalista e tem algum fôlego para levar para o povo o farelo da super exploração dos trabalhadores e da natureza. E isso é bom! Mas é fato inarredável, também, que esses programas sociais – que são bem-vindos - dificilmente se firmarão como Política Pública. Eles são a outra face dos super lucros. Eles só subsistem nesse clima favorável ao capital, com parcerias público-privadas – outro nome da privatização -, com flexibilização dos direitos trabalhistas, com avanço do Agronegócio, de construção de barragens, de exploração desordenada de minério, de desmatamento e assim por diante. Os indígenas, particularmente, sofrem essa pressão, com a demarcação de terras parada e com retrocesso nos seus direitos conquistados graças a lutas históricas.
O preço do desenvolvimentismo tem sido grande, e a dívida com o povo impactado pelas barragens, pela mineração, pela soja, pelo gado, vai ficando maior do que os programas sociais. Na Amazônia, particularmente, o entreguismo é de tal monta, o neocolonialismo é tão presente que, na prática, desenvolvimentismo e neoliberalismo são a mesma coisa.
Esse ambiente neoliberal possibilita agora, no Pará, uma aliança entre o Partido dos Trabalhadores e os Barbalho. O PT abre mão de candidatura própria e apóia o candidato deles a Governador. A base do partido vem chiando, mas parece que tudo já está acertado. Pode até ser tático, mas é indigesto.
Tudo bem! Vamos que Lula e Dilma não dessem um Cavalo de Pau no Submarino para não capotá-lo de vez. Mas que ao menos detivessem os submarinos piratas, os superávits primários, a sangria de nossas riquezas, o retrocesso em direitos historicamente conquistados.
Não sinto nenhuma saudade nem das cebolinhas do Egito e nem da Era FHC. Não sinto, também, nenhuma simpatia pelo esquerdismo para o qual está tudo errado, mas insiste no mesmíssimo caminho, apostando suas melhores fichas na lógica eleitoral, sem trabalho de base e sem enraizamento entre o povo. Mas sinto saudade do Cavalo de pau, que não houve. Sinto saudade de uma postura determinada (que não houve) desde o início do governo Lula, buscando garantir, por exemplo, Reforma Agrária e controle da energia, em toda a sua cadeia, da produção à distribuição. Faltaram-lhe vigor ideológico e  clarividência de outros líderes da América Latina? Faltou-lhe força por causa do arranjo político tão amplo? Os especialistas vão dizer!
As imagens da eleição e posse de Lula, com o povo na rua, são fortes demais, e poderiam, sim, ter dado um baque no Submarino. A um sinal do Palácio, o povo atenderia certamente com prontidão. Haveria uma reação imediata das oligarquias locais associadas a impérios econômicos mundiais, mas, sinceramente, não sei se haveria clima para um golpe de Estado. Talvez.
Ah que vontade que tivesse havido senão um Cavalo de pau, ao menos um jeguezinho! O Xingu, o Tapajós, povos inteiros poderiam, um dia, estar fora das garras do capital. Pois um Jegue com a força popular tem mais peso do que qualquer império.
Esse tempo adiado está em nossas mãos!
Fonte: http://www.mabnacional.org.br/