segunda-feira, 2 de junho de 2014

Matéria do Jornal O Tempo denuncia mineroduto da Ferrous

PUBLICADO EM 02/06/14 - 03h00

Com o regime de chuvas escasso há pelo menos dois anos, a outorga para uso de águas em Minas Gerais pode ser paralisada. Pelo menos é o que pede a Comissão das Águas da Assembleia Legislativa, que vai lançar uma campanha com o pedido de suspensão das autorizações para captação de águas para projetos industriais pelo menos até que o nível dos reservatórios volte à média histórica. 
Em Viçosa e região, o recado para a mineradora já foi dado: Fora Ferrous!

Um dos principais atingidos pela questão são os minerodutos, tubos que levam minério em forma de polpa das minas até os portos nos Estados vizinhos. Atualmente, há três minerodutos em operação em Minas Gerais, todos da Samarco. Um da Anglo American está em fase de instalação e há pelo menos três em projeto: um da Sul Americana de Metais (SAM), um da Ferrous e um da Manabi. Juntos, eles utilizarão cerca de 15 mil m³ de água por hora, de diferentes bacias que cortam o Estado.

“O que os minerodutos fazem é um acinte. A mineração tem outras formas de se viabilizar, não precisa sacrificar o uso múltiplo das águas”, diz o deputado Almir Paraca, presidente da Comissão das Águas. Hoje, os parlamentares irão visitar Salinas e Coronel Murta, no Norte de Minas, cidades que estão na rota no mineroduto da SAM. “É uma região que já tem carência de água”, diz o deputado Rogério Correia, que participará da visita.

A resistência ao uso do grande volume de água pelas mineradoras também é grande nas cidades onde os empreendimentos serão construídos. Em Viçosa, na Zona da Mata, o maior temor é que a captação de água para o mineroduto da Ferrous comprometa o abastecimento da cidade. O assunto foi tema de uma reunião na Universidade Federal de Viçosa (UFV) no início deste mês.

“Temos um manancial já fragilizado e vem um mineroduto para aumentar a ameaça”, diz o coordenador da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous, Luiz Paulo Guimarães. Ele acrescenta que, além do risco de desabastecimento da cidade pela captação no manancial principal, pequenas comunidades rurais e produtores também serão afetados pela extinção de nascentes que passam em suas propriedades.

Em abril, a prefeitura de Açucena, no vale do Rio Doce, revogou a anuência para a instalação do mineroduto da Manabi na cidade. Um dos motivos foi a preocupação com o uso da água. Em documento assinado pela prefeita Darcira de Souza Pereira, por entidades socioambientais e autoridades, o uso do recurso hídrico para a finalidade é chamado de “crime lesa-pátria que lança mão de um imenso volume de água para escoar minério bruto para o litoral”. Todos os minerodutos têm mais de 400 km de extensão, e o da Anglo, com 525 km, será o maior do mundo.

Projetos. Apesar das preocupações dos moradores e das autoridades, todas as mineradoras informam que têm amplos projetos socioambientais e investem no diálogo com as comunidades antes de realizar qualquer intervenção nas cidades. As empresas também afirmam que a implantação da mineração beneficia os municípios com a geração de empregos e de impostos. 

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