Aconteceu neste último sábado (28),
a Assembleia Popular “Presidente Bernardes em debate: Água e Mineroduto”.
Organizada pela Campanha Pelas Águas, Paróquia Santo Antonio e PACAB, a assembleia
teve como objetivo discutir os problemas no abastecimento de água do município
e os impactos sócio-ambientais da possível implantação do mineroduto da
Ferrous.
Os militantes encheram o Salão Paroquial |
Reunidos no Salão Paroquial,
cerca de 60 pessoas compareceram. Entre os participantes estavam moradores do
centro urbano que sofrem com a falta de água, produtores rurais atingidos pelo
mineroduto, estudantes, autoridades do poder público local, vereadores e o
deputado estadual Paulo Lamac do PT.
Rosilene Pires, da coordenação da
Campanha Pelas Águas, fez a abertura da assembléia contextualizando o quão
traumático tem sido a vida das famílias com a chegada da Ferrous na região. “As
famílias estão com um sentimento como se o terreno não fosse mais delas, não
podem fazer uma reforma na casa, pois estão com medo do mineroduto passar. Não
reformam o paiol, não arrumam o quintal, largaram a lavoura. Tudo isso devido
ao terror que a Ferrous colocou impondo a passagem do mineroduto!” exclama a
coordenadora da Campanha, que também terá sua propriedade afetada pelo empreendimento.
Após a abertura, foi passada a
palavra para o vereador José Maria Guimarães (PT). O vereador apresentou a
situação do abastecimento de água em Presidente Bernardes a qual vem recebendo
bastantes reclamações dos moradores. “Desde 2010, a COPASA assumiu o serviço de
abastecimento, mas infelizmente não tem tido muito sucesso. O município tem
sofrido constantemente com a falta de água e não vemos empenho da COPASA em
melhorar essa situação. Ainda se não bastasse, tem a Ferrous que quer cortar a
cidade com o mineroduto, o que vai agravar ainda mais nossa situação!” explicou
o vereador. José Maria, ainda relatou um fato estranho que ocorreu no dia
anterior da assembléia. “A polícia militar me procurou perguntando o que
iríamos fazer e chegaram a me pedir para que suspendêssemos a reunião. Respondi
dizendo que era um evento popular e aproveitei para convidá-los”. A assembléia
contou ao longo de toda duração com a presença da policia militar e ambiental.
A conselheira tutelar Marta Miranda
demonstrou como a qualidade da água em Presidente Bernardes está ruim trazendo
roupas lavadas com água de sua casa. Marta mostrou que ao lavar as roupas, elas
ficavam mais manchadas do que antes.
Impactos
sócio-ambientais
A assembleia teve sequência com a
exposição de Juliana Stelzer, bióloga e coordenadora da Campanha Pelas Águas.
Juliana apresentou fotos e vídeos de outros minerodutos já instalados e
provocou o debate entre os participantes. “A Anglo American implantou o
mineroduto Minas-Rio, o maior do mundo, e deixou um legado imenso de impactos
ambientais e sociais. Dezenas de comunidades que possuíam água em abundância
deixaram de usufruir desse recurso e hoje várias famílias têm de percorrer
longas distâncias para ter acesso à água. Será isso que queremos para nossa
região?” questiona.
Dona Sônia, que terá sua
propriedade atingida, reclama do tratamento dado a sua família pela mineradora.
“Eles chegaram dizendo que tinham o apoio do governador e que iam passar de
qualquer maneira, fosse por bem ou por mal! Meu pai, desde então, ficou muito
abalado e começou a adoecer, é muito ruim saber que somos obrigados a sair do
lugar onde sempre moramos. O mesmo aconteceu com nosso vizinho, que teve sua
morte acelerada com a chegada da Ferrous, ele era uma pessoa muito simples e
vivia da plantação, mas o mineroduto ia passar justamente em sua lavoura e
ainda destruir sua casa. Não temos dúvida que o mineroduto adiantou sua morte”.
Padre Geraldo, da Paróquia de
Santo Antônio, colocou sua preocupação para que a luta não se restrinja ao
mineroduto da Ferrous unicamente. “O projeto do mineroduto e a vinda da Ferrous
ao Brasil não são por acaso. Eles fazem parte do modelo de desenvolvimento
adotado pelo sistema político econômico da nossa sociedade. Não adianta só
debatermos o mineroduto. É preciso refletir sobre o modelo de sociedade que vivemos
que permite e incentiva práticas tão abusivas e degradantes como a da multinacional
Ferrous. Vai que a gente vence o mineroduto da Ferrous? No outro dia pode vir
outra mineradora com outro projeto! Por isso é que devemos ampliar nossa
discussão para o entendimento do sistema político e apoiar e construir o
Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político”.
Encaminhamentos
Ao final da Assembleia Popular, foram tirados
encaminhamentos para a construção da Campanha Pelas Águas na região. Um deles
foi a criação de um núcleo da Campanha em Presidente Bernardes. A coordenadora
da Campanha, Juliana Stelzer, ressaltou a importância da organização para
garantia dos direitos. “A luta é desproporcional, o poder econômico e político
da Ferrous é muito grande, por isso a necessidade de nos organizarmos e aumentarmos
cada vez mais nossa organização, pois como diz o ditado popular: povo unido
jamais será vencido!”.
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O secretário de Agricultura e
Meio Ambiente do município, André Quintão, avaliou o evento positivamente:
“Achei muito importante, fico contente com a movimentação da Campanha, pois
tentamos fazer uma resistência com a empresa, mas é muito difícil. Eles te
colocam para discutir com vários advogados e técnicos e a prefeitura não tem
estrutura para isso. Fico feliz com o apoio da UFV às comunidades, fiquei
sabendo que ela se comprometeu com o CODEMA de Viçosa a inviabilizar a passagem
na cidade, isso dará força a nós que somos pequenos. Acredito que ela está no
caminho certo, pois é esse o papel da universidade, se colocar em defesa da
vida e do povo brasileiro”.
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A assembléia foi marcada pela simbologia e valores da luta popular |
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Diversos cartazes e jornais ornamentaram o ambiente alertando sobre os riscos do projeto da morte |