quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Conselheiro Lafaiete Discute Impactos da Implantação do Mineroduto

População de Lafaiete se reúne para discutir impactos do mineroduto
Foi realizado na última terça-feira (13) um espaço de formação para debater o projeto de mineroduto da empresa Ferrous Resources do Brasil que pretende exportar minério de ferro de Congonhas (MG) até um porto em Presidente Kennedy (ES). O mineroduto é amplamente criticado pelas comunidades atingidas, entidades ambientais, poderes públicos, movimentos organizados e variados setores da sociedade. Se construído, atravessará 22 cidades, sendo 17 em Minas Gerais, 03 no Rio de Janeiro e 02 no Espírito Santo, num total de 400 km de extensão.

Um grande público entre estudantes, professores, religiosos, lideranças sociais e políticos compareceram ao evento realizado no Salão Paroquial da igreja de São João Batista.

Luiz Paulo, membro da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous mostrou os impactos da construção do mineroduto em seu trajeto e como ele irá prejudicar de maneira irreversível pontos de abastecimento de cidades inteiras como é o caso de Viçosa e Conselheiro Lafaiete. Em sua fala destacou que a Universidade Federal de Viçosa (UFV) realizou estudos em mananciais de Viçosa e encontrou uma realidade bem diferente da apresentada no estudo de impacto ambiental da Ferrous.

“O relatório da empresa apresentou que serão impactadas 6 nascentes no Ribeirão São Bartolomeu, principal manancial que abastecem a UFV e o município de Viçosa, mas nós fizemos um levantamento e encontramos 36. E temos clareza, que se fizermos o mesmo levantamento nos demais municípios atingidos, encontraremos números maiores do que os apresentados pela empresa, já que, até uma perícia do Ministério Público Estadual constatou a inconsistência dos estudos da Ferrous”, afirmou.

Letícia Faria, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) falou sobre os impactos do mineroduto em Conselheiro Lafaiete. Segundo ela o mineroduto prevê passagem nas regiões de Gagé, Água Preta e Almeidas impactando diretamente cerca de 90 proprietários rurais, além de representar riscos iminentes para o abastecimento de água na cidade, sobretudo na bacia do Ribeirão Ventura Luiz, principal manancial do município.

Rio Ventura Luiz ameaçado pela passagem do mineroduto; Placa no canto esquerdo da foto

Lagoa de captação da COPASA ameaçada pelo mineroduto

Lagoa de captação da COPASA ameaçada
  Impactos

Além do comprometimento nos mananciais de água e do desmatamento necessário à sua construção, o mineroduto traz ainda impactos sociais e culturais estimulando o êxodo rural, por exemplo. Muitas famílias terão que deixar suas propriedades destruindo vínculos culturais e tradicionais longamente arraigados. Não bastasse tudo isso, a empresa não apresenta critérios claros na negociação das indenizações. As comunidades também se preocupam com as consequências da obra, com a grande contingência de trabalhadores para a implantação é comum o aumento de criminalidade, uso de drogas, prostituição e aumento de natalidade.

Como funciona o mineroduto?

O minério de ferro é dissolvido em água e amido, formando uma polpa de minério. Cerca de 970 litros de água por segundo serão necessário para conduzir o minério, isto é equivalente para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes. Esta água será captada do rio Paraopeba entre Jeceaba e Congonhas. De acordo com o Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do rio Paraopeba (Cibapar), se o empreendimento como da Ferrous forem implantados, o Rio Paraopeba irá secar em 10 anos. É importante ressaltarmos que o Rio Paraopeba é um importante afluente do Rio São Francisco e se o mineroduto for instalado irá prejudicar substancialmente o Velho Chico.

Rio Paraopeba: ameaçado pelo mineroduto da Ferrous
 O mineroduto precisa de uma faixa de servidão com cerca de 40 metros, variando de acordo com a topografia da região, em muitos lugares a faixa de servidão chegou a 90 metros de largura. O mineroduto depende também da força da gravidade para condução do minério, para isto, ele desvia dos morros passando pelos vales. E é justamente nos vales que se encontram as melhores áreas de plantio dos pequenos agricultores e os brejos, nascentes e cursos d’água. Ou seja, o mineroduto além de destruir as áreas de plantios do povo, estimulando o êxodo rural, destrói também nascentes e cursos d’águas. Mas quando o mineroduto topa com morros, a Ferrous irá fazer processos de terraplanagem, retirando-os e fazendo vários depósitos de terra, denominados como “bota-foras” ou Depósitos “Controlados”(!) de Materiais Excedentes (DCME), o que aumenta ainda mais a área de impacto do empreendimento.

Decisões

          Ao final do debate foi encaminhado que serão organizadas audiências públicas em Congonhas e Conselheiro Lafaiete para discutir os impactos sociais e ambientais do empreendimento e que será aprofundado o trabalho de base para fortalecer a mobilização popular em defesa das águas e contra o atual modelo de exploração mineral que viola direitos e destrói o meio ambiente. Além disso, após as discussões e a grande preocupação em torno do abastecimento do município, encaminhou-se estudos que averiguassem o quanto Conselheiro Lafaiete sofrerá em termos de recursos hídricos caso o mineroduto seja implantado. 

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