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População de Lafaiete se reúne para discutir impactos do mineroduto |
Foi realizado na
última terça-feira (13) um espaço de formação para debater o projeto de
mineroduto da empresa Ferrous Resources do Brasil que pretende exportar minério
de ferro de Congonhas (MG) até um porto em Presidente Kennedy (ES). O mineroduto
é amplamente criticado pelas comunidades atingidas, entidades ambientais, poderes
públicos, movimentos organizados e variados setores da sociedade. Se construído,
atravessará 22 cidades, sendo 17 em Minas Gerais, 03 no Rio de Janeiro e 02 no Espírito
Santo, num total de 400 km de extensão.
Um grande público entre
estudantes, professores, religiosos, lideranças sociais e políticos compareceram
ao evento realizado no Salão Paroquial da igreja de São João Batista.
Luiz Paulo, membro da
Campanha Pelas Águas e Contra o
Mineroduto da Ferrous mostrou os impactos da construção do mineroduto em
seu trajeto e como ele irá prejudicar de maneira irreversível pontos de
abastecimento de cidades inteiras como é o caso de Viçosa e Conselheiro Lafaiete.
Em sua fala destacou que a Universidade Federal de Viçosa (UFV) realizou
estudos em mananciais de Viçosa e encontrou uma realidade bem diferente da
apresentada no estudo de impacto ambiental da Ferrous.
“O relatório da
empresa apresentou que serão impactadas 6 nascentes no Ribeirão São Bartolomeu,
principal manancial que abastecem a UFV e o município de Viçosa, mas nós
fizemos um levantamento e encontramos 36. E temos clareza, que se fizermos o
mesmo levantamento nos demais municípios atingidos, encontraremos números maiores
do que os apresentados pela empresa, já que, até uma perícia do Ministério
Público Estadual constatou a inconsistência dos estudos da Ferrous”, afirmou.
Letícia Faria, representante
do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) falou sobre os impactos do
mineroduto em Conselheiro Lafaiete. Segundo ela o mineroduto prevê passagem nas
regiões de Gagé, Água Preta e Almeidas impactando diretamente cerca de 90
proprietários rurais, além de representar riscos iminentes para o abastecimento
de água na cidade, sobretudo na bacia do Ribeirão Ventura Luiz, principal
manancial do município.
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Rio Ventura Luiz ameaçado pela passagem do mineroduto; Placa no canto esquerdo da foto |
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Lagoa de captação da COPASA ameaçada pelo mineroduto |
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Lagoa de captação da COPASA ameaçada |
Impactos
Além do
comprometimento nos mananciais de água e do desmatamento necessário à sua
construção, o mineroduto traz ainda impactos sociais e culturais estimulando o
êxodo rural, por exemplo. Muitas famílias terão que deixar suas propriedades
destruindo vínculos culturais e tradicionais longamente arraigados. Não
bastasse tudo isso, a empresa não apresenta critérios claros na negociação das
indenizações. As comunidades também se preocupam com as consequências da obra,
com a grande contingência de trabalhadores para a implantação é comum o aumento
de criminalidade, uso de drogas, prostituição e aumento de natalidade.
Como
funciona o mineroduto?
O minério de ferro é dissolvido
em água e amido, formando uma polpa de minério. Cerca de 970 litros de água por
segundo serão necessário para conduzir o minério, isto é equivalente para
abastecer uma cidade de 500 mil habitantes. Esta água será captada do rio
Paraopeba entre Jeceaba e Congonhas. De
acordo com o Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do rio Paraopeba
(Cibapar), se o empreendimento como da Ferrous forem implantados, o Rio
Paraopeba irá secar em 10 anos. É importante ressaltarmos que o Rio
Paraopeba é um importante afluente do Rio São Francisco e se o mineroduto for
instalado irá prejudicar substancialmente o Velho Chico.
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Rio Paraopeba: ameaçado pelo mineroduto da Ferrous |
O mineroduto precisa
de uma faixa de servidão com cerca de 40 metros, variando de acordo com a
topografia da região, em muitos lugares a faixa de servidão chegou a 90 metros
de largura. O mineroduto depende também da força da gravidade para condução do
minério, para isto, ele desvia dos morros passando pelos vales. E é justamente
nos vales que se encontram as melhores áreas de plantio dos pequenos
agricultores e os brejos, nascentes e cursos d’água. Ou seja, o mineroduto além
de destruir as áreas de plantios do povo, estimulando o êxodo rural, destrói também
nascentes e cursos d’águas. Mas quando o mineroduto topa com morros, a Ferrous
irá fazer processos de terraplanagem, retirando-os e fazendo vários depósitos
de terra, denominados como “bota-foras” ou Depósitos “Controlados”(!) de
Materiais Excedentes (DCME), o que aumenta ainda mais a área de impacto do empreendimento.
Decisões
Ao final do debate foi encaminhado que serão organizadas audiências públicas em Congonhas e Conselheiro Lafaiete para discutir os impactos sociais e ambientais do empreendimento e que será aprofundado o trabalho de base para fortalecer a mobilização popular em defesa das águas e contra o atual modelo de exploração mineral que viola direitos e destrói o meio ambiente. Além disso, após as discussões e a grande preocupação em torno do abastecimento do município, encaminhou-se estudos que averiguassem o quanto Conselheiro Lafaiete sofrerá em termos de recursos hídricos caso o mineroduto seja implantado.