Nesta
última quarta feira (03) aconteceu em Paula Cândido (MG) o “Ato Popular em Defesa das Águas, da Terra e da Nossa Gente, Contra o Mineroduto
da Ferrous”, que reuniu cerca de 150 participantes das comunidades rurais e
urbanas e representantes dos municípios de Viçosa, Coimbra, Ervália e
Presidente Bernardes.
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Com gritos de ordem, manifestantes mandavam a Ferrous para longe |
A
intenção do ato foi denunciar as violações de
direitos sofridas pelas comunidades atingidas e os profundos danos sociais e
ambientais que o mineroduto da Ferrous poderá trazer à região, além de
pressionar e garantir a oficialização do decreto assinado pela Prefeitura que revoga
todos os atos administrativos concedidos à mineradora. A autorização do poder
executivo ao mineroduto é um dos pré-requisitos para a obtenção da licença
ambiental, e com o ato de revogação o processo de licenciamento pode ser anulado
pelo IBAMA.
Os
manifestantes se concentraram ao final da tarde em frente à Praça da Igreja
Matriz e seguiram em uma grande marcha até a Câmara Municipal. O trajeto foi
percorrido com muita animação, ao som de bateria, músicas, faixas, cartazes,
gritos de ordem e falas dos atingidos expondo os descontentamentos com o
empreendimento. Como símbolo da luta
pelas águas, os manifestantes estenderam uma grande onda azul, chamando a
atenção de todos que passavam pelo local.
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A onda azul tomou conta da cidade |
Segundo
Juliana Stelzer, coordenadora da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da
Ferrous, “essas mineradoras multinacionais, como a Ferrous, só estão
interessadas em seus lucros! Saqueiam nossos minérios, nossas águas sem se preocupar
com as comunidades, nem com a destruição ambiental!”. Ela também chamou a
atenção para o momento de seca pelo qual Minas Gerais está passando, “não
podemos brincar com a água! Cerca de 200 municípios decretaram estado de
emergência por falta de água e ao mesmo tempo há oito projetos de minerodutos
em tramitação no estado. A água que deveria suprir a demanda dos mineiros está
sendo levada pelo cano junto com os nossos minérios pelas empresas
estrangeiras”, exclamou.
Representantes
das comunidades atingidas expuseram os sofrimentos e angústias que estão
passando, com a possibilidade de terem que deixar suas terras e ver o lugar
onde sempre viveram ser destruído. Moradores da cidade também se manifestaram,
colocando os danos sociais para o município como um todo. O grupo de Congado de
Airões, comunidade diretamente atingida, esteve presente e trouxe para a
manifestação elementos da cultura popular local. E foi ao som do Congado que os
manifestantes ocuparam a câmara municipal.
O
presidente da Câmara, Everaldo da Conceição,
abriu a sessão solene contextualizando o posicionamento assumido pela Câmara e
Prefeitura e convidou para compor à mesa os vereadores da casa, bem como o prefeito
Marcelo Rodrigues da Silva, o vereador de Viçosa e presidente da Comissão Parlamentar de Enfrentamento ao Mineroduto, Idelmino Ronivon, Rosilene Pires e Dona
Carmelita, ambas membros da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous.
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Mesa composta e plenária lotada pelos manifestantes |
O vereador Idelmino parabenizou a postura da prefeitura e do legislativo e reforçou a importância
do município de Paula Cândido se unir à Viçosa na luta contra a construção
do mineroduto. “Precisamos unir, somar forças políticas e apoiar a população contra
o mineroduto e a favor da preservação das nossas águas”. Ele sugeriu que
se crie no município uma Comissão Parlamentar de Enfrentamento ao Mineroduto, a
exemplo de Viçosa, e reafirmou que “o próximo passo é articular com os
Legislativos dos outros municípios da região, para que o enfrentamento à empresa
seja de caráter regional”.
Rosilene
Pires fez um breve histórico da luta contra o mineroduto e destacou a
importância do ato público em defesa da nossa água, nossa terra, nossa gente. “Esse
mineroduto é uma tragédia anunciada. Basta olharmos a construção desse tipo de
empreendimento em outras cidades de Minas Gerais, afetando as nascentes,
aterrando córregos, ocasionado inchaço nas cidades, êxodo rural e invasão das
áreas boas para o cultivo. Paula Cândido é um município agrícola, as famílias
tiram o seu sustento do solo. Não queremos esse empreendimento em nosso
município”, declarou. Ela salientou que “este ato é um marco histórico na
cidade, e mostra a força da organização popular, pois só assim, unidos e
organizados, poderemos derrotar este projeto”.
Dona
Carmelita expôs como a empresa desrespeita os
atingidos: “Eles chegam invadindo, desrespeitam os idosos e deixam as famílias
angustiadas. O mineroduto não é um problema só meu, é um problema de todos nós,
devemos nos unir e lutar contra esse mineroduto! Eu fui nascida naquele lugar,
crescida ali e quero morrer naquele lugar!”.
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Decreto de revogação e moção de repúdio ao mineroduto assinados pelas autoridades |
O Prefeito de
Paula Cândido, Marcelo Rodrigues, manifestou o seu apoio incondicional ao
movimento da Campanha pelas Águas e Contra o Mineroduto, afirmando que, “o mineroduto
não trará nenhum benefício para Paula Cândido! Não queremos isso para o nosso
município. A decisão está tomada e lutarei até o fim para evitar essa tragédia!”.
Ao final das
exposições, o prefeito assinou o decreto revogando todos os atos
administrativos concedidos à mineradora Ferrous e a Câmara Municipal protocolou
uma moção de repudio à passagem do mineroduto no município. Também participaram
do ato o Secretário de Governo de Paula
Cândido, José Vicente Sousa, e os vereadores de Viçosa, Marcos Nunes e Paulo Roberto Cabral.
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População manda a mineradora Ferrous ir embora de Paula Cândido |
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A criançada esteve presente e agitou a onda azul |
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Manifestantes ocupam a Câmara Municipal com cartazes e gritos de ordem |
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Dona Carmelita, atingida pelo mineroduto, conta os abusos da mineradora |
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Concentração para o ato na praça da Igreja Matriz |
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Congado de Airões canta contra o mineroduto. É a cultura popular ameaçada por este empreendimento! |
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Intervenção no encerramento do ato: o povo não aceita a água suja e as falácias da empresa e expulsa a Ferrous! |