segunda-feira, 30 de junho de 2014

Assembléia Popular em Presidente Bernardes - Água ou Mineroduto?


Aconteceu neste último sábado (28), a Assembleia Popular “Presidente Bernardes em debate: Água e Mineroduto”. Organizada pela Campanha Pelas Águas, Paróquia Santo Antonio e PACAB, a assembleia teve como objetivo discutir os problemas no abastecimento de água do município e os impactos sócio-ambientais da possível implantação do mineroduto da Ferrous.

Os militantes encheram o Salão Paroquial
Reunidos no Salão Paroquial, cerca de 60 pessoas compareceram. Entre os participantes estavam moradores do centro urbano que sofrem com a falta de água, produtores rurais atingidos pelo mineroduto, estudantes, autoridades do poder público local, vereadores e o deputado estadual Paulo Lamac do PT.

Rosilene Pires, da coordenação da Campanha Pelas Águas, fez a abertura da assembléia contextualizando o quão traumático tem sido a vida das famílias com a chegada da Ferrous na região. “As famílias estão com um sentimento como se o terreno não fosse mais delas, não podem fazer uma reforma na casa, pois estão com medo do mineroduto passar. Não reformam o paiol, não arrumam o quintal, largaram a lavoura. Tudo isso devido ao terror que a Ferrous colocou impondo a passagem do mineroduto!” exclama a coordenadora da Campanha, que também terá sua propriedade afetada pelo empreendimento.

Após a abertura, foi passada a palavra para o vereador José Maria Guimarães (PT). O vereador apresentou a situação do abastecimento de água em Presidente Bernardes a qual vem recebendo bastantes reclamações dos moradores. “Desde 2010, a COPASA assumiu o serviço de abastecimento, mas infelizmente não tem tido muito sucesso. O município tem sofrido constantemente com a falta de água e não vemos empenho da COPASA em melhorar essa situação. Ainda se não bastasse, tem a Ferrous que quer cortar a cidade com o mineroduto, o que vai agravar ainda mais nossa situação!” explicou o vereador. José Maria, ainda relatou um fato estranho que ocorreu no dia anterior da assembléia. “A polícia militar me procurou perguntando o que iríamos fazer e chegaram a me pedir para que suspendêssemos a reunião. Respondi dizendo que era um evento popular e aproveitei para convidá-los”. A assembléia contou ao longo de toda duração com a presença da policia militar e ambiental.

Assembléia contou com a participação da PM

A conselheira tutelar Marta Miranda demonstrou como a qualidade da água em Presidente Bernardes está ruim trazendo roupas lavadas com água de sua casa. Marta mostrou que ao lavar as roupas, elas ficavam mais manchadas do que antes.     

Impactos sócio-ambientais

A assembleia teve sequência com a exposição de Juliana Stelzer, bióloga e coordenadora da Campanha Pelas Águas. Juliana apresentou fotos e vídeos de outros minerodutos já instalados e provocou o debate entre os participantes. “A Anglo American implantou o mineroduto Minas-Rio, o maior do mundo, e deixou um legado imenso de impactos ambientais e sociais. Dezenas de comunidades que possuíam água em abundância deixaram de usufruir desse recurso e hoje várias famílias têm de percorrer longas distâncias para ter acesso à água. Será isso que queremos para nossa região?” questiona.

Dona Sônia, que terá sua propriedade atingida, reclama do tratamento dado a sua família pela mineradora. “Eles chegaram dizendo que tinham o apoio do governador e que iam passar de qualquer maneira, fosse por bem ou por mal! Meu pai, desde então, ficou muito abalado e começou a adoecer, é muito ruim saber que somos obrigados a sair do lugar onde sempre moramos. O mesmo aconteceu com nosso vizinho, que teve sua morte acelerada com a chegada da Ferrous, ele era uma pessoa muito simples e vivia da plantação, mas o mineroduto ia passar justamente em sua lavoura e ainda destruir sua casa. Não temos dúvida que o mineroduto adiantou sua morte”.


Padre Geraldo, da Paróquia de Santo Antônio, colocou sua preocupação para que a luta não se restrinja ao mineroduto da Ferrous unicamente. “O projeto do mineroduto e a vinda da Ferrous ao Brasil não são por acaso. Eles fazem parte do modelo de desenvolvimento adotado pelo sistema político econômico da nossa sociedade. Não adianta só debatermos o mineroduto. É preciso refletir sobre o modelo de sociedade que vivemos que permite e incentiva práticas tão abusivas e degradantes como a da multinacional Ferrous. Vai que a gente vence o mineroduto da Ferrous? No outro dia pode vir outra mineradora com outro projeto! Por isso é que devemos ampliar nossa discussão para o entendimento do sistema político e apoiar e construir o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político”.

Encaminhamentos

 Ao final da Assembleia Popular, foram tirados encaminhamentos para a construção da Campanha Pelas Águas na região. Um deles foi a criação de um núcleo da Campanha em Presidente Bernardes. A coordenadora da Campanha, Juliana Stelzer, ressaltou a importância da organização para garantia dos direitos. “A luta é desproporcional, o poder econômico e político da Ferrous é muito grande, por isso a necessidade de nos organizarmos e aumentarmos cada vez mais nossa organização, pois como diz o ditado popular: povo unido jamais será vencido!”.



O secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, André Quintão, avaliou o evento positivamente: “Achei muito importante, fico contente com a movimentação da Campanha, pois tentamos fazer uma resistência com a empresa, mas é muito difícil. Eles te colocam para discutir com vários advogados e técnicos e a prefeitura não tem estrutura para isso. Fico feliz com o apoio da UFV às comunidades, fiquei sabendo que ela se comprometeu com o CODEMA de Viçosa a inviabilizar a passagem na cidade, isso dará força a nós que somos pequenos. Acredito que ela está no caminho certo, pois é esse o papel da universidade, se colocar em defesa da vida e do povo brasileiro”.    

A assembléia foi marcada pela simbologia e valores da luta popular
Diversos cartazes e jornais ornamentaram o ambiente alertando sobre os riscos do projeto da morte

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