O mês de
junho foi marcado por grandes mobilizações em todo o Brasil. Jovens,
trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais foram às ruas lutar pela
garantia e ampliação de direitos, pelo passe livre, redução da jornada de
trabalho, pelos 10% do PIB para educação, contra o leilão dos petróleos,
melhorias na saúde, democratização dos meios de comunicação, pela redução do
preço da luz, combate a corrupção, entre outras.
Em Viçosa não foi diferente, milhares
de pessoas tomaram às ruas da cidade manifestando contra os principais
problemas do município. Para obter conquistas, os manifestantes se articularam
em assembleias e organizaram o movimento Viçosa Que Queremos. A fim de definir
as principais pautas do movimento foram criados eixos temáticos, entre eles o
de meio ambiente, cujo principal ponto levantado foi o problemático projeto de
implantação do mineroduto da Ferrous.
A Ferrous, empresa multinacional,
projeta a construção de um mineroduto ligando Congonhas (MG) à Presidente
Kennedy (ES) para escoar minério de ferro. Passando por 22 municípios, ele
pretende percorrer cerca de 15 km em Viçosa. Este empreendimento é o exemplo
claro do modelo de exploração mineral adotado pelo Estado brasileiro que permite
o saqueio de nossas riquezas por grandes grupos privados, mantendo em grande
medida a economia do país com aspectos coloniais, baseada na exportação de
matérias primas.
A chegada da empresa Ferrous na cidade
gerou uma serie de conflitos, especialmente com as famílias que vão ter suas
propriedades atingidas. A conduta da Ferrous com os proprietários foi
extremamente truculenta, invadindo propriedades sem autorização, oferecendo
valores irrisórios de indenização, negociando de forma diferenciada de acordo
com a condição social dos atingidos, assediando moralmente, além de não
divulgar informações corretas e qualificadas sobre as reais consequências do
empreendimento.
Se não bastasse as violações aos
direitos das famílias atingidas, é extremamente preocupante o trajeto
estabelecido pela empresa na passagem em Viçosa. Pois atravessa justamente as
áreas de mananciais de captação de água do município, o que comprometerá
substancialmente o abastecimento hídrico da cidade. Os mananciais atingidos
serão o Ribeirão São Bartolomeu, Rio Turvo Sujo e Rio Turvo Limpo, neste último,
o SAAE pretende futuramente construir a terceira estação de tratamento de água
em Viçosa.
É de conhecimento que os mananciais de
Viçosa operam em seu limite, sendo recorrente a falta de água nas partes altas
do município. Você já imaginou se o mineroduto passar por cima deles? Vale a
pena o sucesso de uma empresa multinacional em detrimento do abastecimento
hídrico de nossa cidade?
Diante disso, Viçosa precisa fazer uma
escolha: ou opta pelo mineroduto ou pelo abastecimento de água. A sociedade
civil organizada na Campanha Pelas Águas e no Viçosa Que Queremos já fez a sua
escolha.
Portanto, para que prevaleça os interesses da coletividade e
a segurança hídrica do município, se faz necessário o posicionamento da
Prefeitura Municipal de Viçosa e Reitoria da UFV contra a passagem do
mineroduto, assim como a implantação da Área de Proteção Ambiental (APA) do São
Bartolomeu.